POEMA: A LENDÁRIA EPOPÉIA DO JUMBO


 

Na década de mil novecentos e setenta
O grupo Sendas que teve sua sede no Rio;
Inaugurou na cidade de Santo André no ABC
O primeiro hipermercado do Brasil.

A partir desse marco nos anos seguintes
A rede de lojas passou a crescer;
Até que aportou no Parque da Água Branca
Nas imediações da Marginal Tietê.

A rede que em São Paulo ganhou o nome de Jumbo
Foi um grande mercado na região
E localizava-se a quinze minutos
Da antiga Casa de Detenção.

Reza a lenda que naquela época
As famílias dos presos que ali os visitavam;
Deram o nome de Jumbo às sacolas de mantimentos
Pelas quantidades que elas levavam.

Já naqueles anos na Penitenciária do Estado
Onde qualquer ruído se transformava num zumbo;
Podia-se mexer em tudo que fosse do preso
Menos na visita e tampouco no jumbo.

A rede foi vendida para o Grupo Pão de Açúcar
E desde então não existe mais;
E o jumbo, como gíria de cadeia
Existe até os dias atuais.

Foi então que a partir dessa época
Desde a antiga Casa de Detenção;
O jumbo não foi instituído como direito
Mas foi regulamentado como concessão.

Entretanto essa inolvidável benesse concedida aos presos
Diferentemente dos seus anos INICIAIS;
Continua motivo de controvérsia
Entre os Policiais Penais.

Há quem ache que deva limitar o jumbo,
há quem ache que deva diminuir;
E quem ache que, por ser uma concessão
O jumbo não deva mais existir.

Todavia o jumbo que não é uma obrigação administrativa
Assim como nem deveria;
Tem toda uma norma e critérios especificados
No site oficial da secretaria.

A lista do jumbo tem cento e dezoito itens
Alguns até inusitados;
Como lixa de pé, pó descolorante
Protetor solar, batom e pijama malhado.

Os guardas nas cadeias espalhadas pelo Estado
Sabem que pegam o grosso do chumbo;
Quando têm que, da manhã à tarde
Ficarem numa mesa revistando jumbo.

Furando barra de sabão, manuseando arapiraca
Derramando cloro e desinfetante;
Quebrando barbeador
E Cheirando água e refrigerante.

De São Vicente a Riolândia
De Bernadino de Campos a Caraguá;
Quando o assunto é jumbo, cada guarda
Tem uma história triste para contar.

Certo guarda de um CDP da baixada
Que não fala o nome para não arrumar uma treta;
Falou que estourou um litro de cândida
E perdeu uma calça e uma camiseta.

UMA guarda de Álvaro de Carvalho
Falou que no jumbo o cansaço é tamanho;
Que ela chega tão cansada em casa
Que dorme sem tomar banho.

O jumbo, qual tem caráter de concessão,
E qual deveria ser ponderado;
Se perpetuou como regalias dos presos
Pela inércia e pela ignorância do Estado

Que não sendo capaz de sanar a falta de suprimentos
Induz o sistema a uma falsa concórdia;
E nem cumpre o mínimo que deveria cumprir
Para com o indivíduo sob sua custódia.

De um lado o Estado responsável pela prisão
Do mesmo lado o guarda defeso;
E no meio a família sujeita à ignomínia 
Do que é dever do Estado para com o preso.

Entra administração, sai administração
Faz-se isso, fala-se aquilo
E não tem quem consiga acabar com o jumbo
Ou pelo menos diminuí-lo

Nesses quarenta e seis anos que se passaram
Houve mudanças tais quais necessárias;
A COESPE acabou, foi criada a SAP
A administração penitenciária.

O Jumbo Elétro virou Pão de Açúcar
A antiga Casa de Detenção virou pó;
E o jumbo dos presos que já era grande
Ficou foi ainda maior.

7 comentários:

  1. Parabéns, boa explanação de como surgiu o "Jumbo" perfeito...

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  2. Parabéns... Seus poemas são fantásticos e cômicos.... Talento puro.

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  3. Parabéns seus poemas são fantásticos, muito criativos.... É muito talento

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    1. Muito obrigado....vamos sempre mostrando que algo está errado e precisa ser consertado.

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  4. Faz um sobre o "bonde"

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